É incrível o número de depoimentos que vejo de jovens palmeirenses consagrando o PVC como "o melhor jornalista esportivo do Brasil".
Pode ser um julgamento equivocado da minha parte, mas acho que a maioria destes o considera fenomenal pela sua capacidade invejável de armazenamento de dados, pelo costumeiro vômito de dados sem muito nexo, pela inegável (será?) memória de jogos de séculos atrás.
Para essa geração que fica estupefata com a astúcia da calculadora (científica, ou não) da imprensa brasileira, lanço aqui uma questão.
Segunda à noite, no programa "Linha de Passe" da ESPN Brasil, durante momento de abertura em que todos os jornalistas faziam seu balanço das Olimpíadas, o próprio PVC admitiu que não é exatamente um jornalista esportivo, mas sim um jornalista "de futebol".
O folclórico e circense Roberto Avallone, vírgula, reticências, EXCLAMAÇÃO!!!, nunca foi muito levado a sério como jornalista esportivo a partir dos anos 90 por suas famosas digressões e flashbacks de memória.
Na minha modesta opinião, o que difere os dados do PVC com os surtos nostálgicos que o Avallone tinha é que as informações do primeiro estão todas arquivadas e armazenadas em seu computador pessoal, enquanto o arquivo de lembranças do Avallone vem direto da cachola.
Não há demérito algum em ter todas as informações organizadas num banco de dados, muito pelo contrário, há um grande mérito. Principalmente se você for um estatístico ou um pesquisador.
O problema no caso do PVC, ao meu ver como expectador palmeirense, é que seus comentários baseados em estatísticas são rasos. Não vão além dos dados (alguns bizarros e insignificantes), e seu conteúdo jornalístico é questionável, bem como sua capacidade de demonstrar algum envolvimento emocional com o esporte que admite publicamente ser a sua paixão.
"Há 12 anos, o XV de Piriri não vencia o Garanhunzense de virada, com três gols de cabeça, em noites de lua crescente."
E aí, me dou o direito de perguntar: como um jornalista DE FUTEBOL, de algum renome, e palmeirense deixa passar em branco em seu blog o aniversário do Palmeiras?
O PVC nunca foi cronista, ok. Se auto-denomina jornalista. Mas pelo teor de seu blog no dia do aniversário do (assim dito) seu clube de coração, tudo que ele almeja é ser um repórter que dá furos sobre negociações e vendas de jogadores.
O gozado é que os dados que o PVC armazena, coisa que qualquer 386 fazia e ainda é capaz de fazer, dá a ele o título de conhecedor profundo de táticas e estratégias do futebol. Se ele disser que São Marcos anda jogando de lateral esquerdo, muitos vão acreditar e ainda achá-lo fodão por ter enxergado isso.
Em contrapartida ao PVC, cito Mauro Betting. Também assumidamente um jornalista mais "de futebol" do que "de esportes", também palmeirense, também reconhecido por nós alviverdes, mas com um diferencial: ele não considera demérito ou antiético se declarar palmeirense, e nem por isso torna-se um jornalista parcial.
E mais: o Mauro não tem vergonha alguma, nem a aversão muitas vezes mostrada por PVC, de demonstrar seu amor pelo Palmeiras.
"Jornalismo, jornalismo. Crônicas à parte."
O robô PVC sempre demonstra uma certa ojeriza a declarar sua preferência. Dá pra contar nos dedos as vezes em que se pôde notar alguma gota de emoção nas palavras escritas ou faladas dele. Parece que, para ele, reconhecer seu amor pelo clube de coração o torna menos robô, menos "certinho", menos profissional.
Humildemente, indico ao PVC uma leitura imperdível. De um texto que muitos palmeirenses já leram há dois dias atrás, mas vale a lembrança.
POR MAURO BETTING
Não é um texto novo. Não está à altura do homenageado.
Mas como estar à altura do aniversariante?
Como definir o que é o amor?
Não vou usar aquelas imagens que não sei descrever de um pôr-do-sol ao lado da pessoa amada, de uma lua cheia com a namorada, de uma tarde no parque com os filhos.
Mas posso lembrar de um fim de tarde no Palestra, quando ganhamos do Taquaritinga por 5 a 1, em 1983, e mal vi o último gol porque o Sol não deixava ninguém ver na arquibancada.
Posso falar da lua de 12 de junho de 1993, Dia dos Namorados.
Posso recordar da primeira tarde no Palestra Itália com os meus filhos.
Posso falar qualquer coisa, que qualquer coisa fala de Palmeiras para mim.
Mas não posso escrever qualquer coisa para o Palmeiras, que qualquer coisa não é o Palmeiras.
Palmeiras é o meu primeiro amor.
A família a gente nasce amando, a mulher e os filhos a gente cresce amando, os amigos a gente escolhe.
Mas o Palmeiras nos escolhe e nos acolhe.
O Palmeiras é companheiro, nos faz cúmplices, nos junta e nos une. Você não me conhece.
Eu não te conheço.
Mas nós conhecemos o Palmeiras.
Nós somos palmeirenses.
Estamos apresentados, representados.
Não precisamos lembrar que somos "campeões do século 20" (pelos rankings da Federação Paulista, jornais "O Estado de S.Paulo" e "Folha de S.Paulo", e pela revista "Placar") - ops, fomos cabotinos, perdão.
Não precisamos cantar vitória e contar canecos.
Precisamos apenas encher o peito e vestir verde.
Não somos mais. Não somos menos.
Somos Palmeiras.
Basta.
Viu?
Falei e escrevi e ainda não disse nada.
Falar de tudo que é o Palmeiras é ainda dizer nada a respeito de tudo.
Poderia escrever Ademir da Guia e bastaria.
Ministrinho, Heitor, Junqueira, Romeu Pellicciari, Waldemar Fiume, Oberdan, Villadoniga, Jair Rosa Pinto, Mazola, Julinho Botelho, Djalma Santos, Valdir de Moraes, Geraldo Scotto, Dudu, César, Leão, Luís Pereira, Leivinha, Jorginho Putinatti, Vagner Bacharel, César Sampaio, Evair, Zinho, Edmundo, Rivaldo, Marcos, Roberto Carlos, Antonio Carlos, Alex, Vagner Love, Valdivia.
Tantos nomes que esqueci, tantos nomes que não citei.
E, mais que todos, mais que tudo, você. Eu. Nós.
Porque o Palmeiras é dos palmeirenses.
Dos torcedores, mais que dos sócios, dos cartolas, dos chefões. Da oposição que não se opõe à situação, mas ao Palmeiras.
Também por se opor à nova Arena em questões que o mesmo grupo havia apoiado quando (des)mandava no clube.
Mas não é tempo para esse tópico fundamental para o futuro do tamanho do presente que é o Palmeiras para os palestrinos.
Vou parar por aqui, sem dizer coisa com coisa.
Mas não fico triste, não.
Nem um Ademir da Guia das palavras conseguiria dizer ao Palmeiras o que o Palmeiras nos diz.
Parabéns pelos 94 anos de vida, Palestra.
Obrigado pelos meus 41 anos de Palmeiras.
Cada um tem seu conceito de jornalismo. Cada um tem o seu conceito de melhor. Cada um tem o seu conceito de palmeirense. E, para mim, não existe palmeirense frio com o Palmeiras.
Por isso, disparadamente entre o poeta e o robô, eu fico com o poeta.