28 de ago. de 2008

O robô e o poeta

É incrível o número de depoimentos que vejo de jovens palmeirenses consagrando o PVC como "o melhor jornalista esportivo do Brasil".

Pode ser um julgamento equivocado da minha parte, mas acho que a maioria destes o considera fenomenal pela sua capacidade invejável de armazenamento de dados, pelo costumeiro vômito de dados sem muito nexo, pela inegável (será?) memória de jogos de séculos atrás.

Para essa geração que fica estupefata com a astúcia da calculadora (científica, ou não) da imprensa brasileira, lanço aqui uma questão.

Segunda à noite, no programa "Linha de Passe" da ESPN Brasil, durante momento de abertura em que todos os jornalistas faziam seu balanço das Olimpíadas, o próprio PVC admitiu que não é exatamente um jornalista esportivo, mas sim um jornalista "de futebol".

O folclórico e circense Roberto Avallone, vírgula, reticências, EXCLAMAÇÃO!!!, nunca foi muito levado a sério como jornalista esportivo a partir dos anos 90 por suas famosas digressões e flashbacks de memória.

Na minha modesta opinião, o que difere os dados do PVC com os surtos nostálgicos que o Avallone tinha é que as informações do primeiro estão todas arquivadas e armazenadas em seu computador pessoal, enquanto o arquivo de lembranças do Avallone vem direto da cachola.

Não há demérito algum em ter todas as informações organizadas num banco de dados, muito pelo contrário, há um grande mérito. Principalmente se você for um estatístico ou um pesquisador.

O problema no caso do PVC, ao meu ver como expectador palmeirense, é que seus comentários baseados em estatísticas são rasos. Não vão além dos dados (alguns bizarros e insignificantes), e seu conteúdo jornalístico é questionável, bem como sua capacidade de demonstrar algum envolvimento emocional com o esporte que admite publicamente ser a sua paixão.

"Há 12 anos, o XV de Piriri não vencia o Garanhunzense de virada, com três gols de cabeça, em noites de lua crescente."

E aí, me dou o direito de perguntar: como um jornalista DE FUTEBOL, de algum renome, e palmeirense deixa passar em branco em seu blog o aniversário do Palmeiras?

O PVC nunca foi cronista, ok. Se auto-denomina jornalista. Mas pelo teor de seu blog no dia do aniversário do (assim dito) seu clube de coração, tudo que ele almeja é ser um repórter que dá furos sobre negociações e vendas de jogadores.

O gozado é que os dados que o PVC armazena, coisa que qualquer 386 fazia e ainda é capaz de fazer, dá a ele o título de conhecedor profundo de táticas e estratégias do futebol. Se ele disser que São Marcos anda jogando de lateral esquerdo, muitos vão acreditar e ainda achá-lo fodão por ter enxergado isso.

Em contrapartida ao PVC, cito Mauro Betting. Também assumidamente um jornalista mais "de futebol" do que "de esportes", também palmeirense, também reconhecido por nós alviverdes, mas com um diferencial: ele não considera demérito ou antiético se declarar palmeirense, e nem por isso torna-se um jornalista parcial.

E mais: o Mauro não tem vergonha alguma, nem a aversão muitas vezes mostrada por PVC, de demonstrar seu amor pelo Palmeiras.

"Jornalismo, jornalismo. Crônicas à parte."

O robô PVC sempre demonstra uma certa ojeriza a declarar sua preferência. Dá pra contar nos dedos as vezes em que se pôde notar alguma gota de emoção nas palavras escritas ou faladas dele. Parece que, para ele, reconhecer seu amor pelo clube de coração o torna menos robô, menos "certinho", menos profissional.

Humildemente, indico ao PVC uma leitura imperdível. De um texto que muitos palmeirenses já leram há dois dias atrás, mas vale a lembrança.

POR MAURO BETTING

Não é um texto novo. Não está à altura do homenageado.

Mas como estar à altura do aniversariante?

Como definir o que é o amor?

Não vou usar aquelas imagens que não sei descrever de um pôr-do-sol ao lado da pessoa amada, de uma lua cheia com a namorada, de uma tarde no parque com os filhos.

Mas posso lembrar de um fim de tarde no Palestra, quando ganhamos do Taquaritinga por 5 a 1, em 1983, e mal vi o último gol porque o Sol não deixava ninguém ver na arquibancada.

Posso falar da lua de 12 de junho de 1993, Dia dos Namorados.

Posso recordar da primeira tarde no Palestra Itália com os meus filhos.

Posso falar qualquer coisa, que qualquer coisa fala de Palmeiras para mim.

Mas não posso escrever qualquer coisa para o Palmeiras, que qualquer coisa não é o Palmeiras.

Palmeiras é o meu primeiro amor.

A família a gente nasce amando, a mulher e os filhos a gente cresce amando, os amigos a gente escolhe.

Mas o Palmeiras nos escolhe e nos acolhe.

O Palmeiras é companheiro, nos faz cúmplices, nos junta e nos une. Você não me conhece.

Eu não te conheço.

Mas nós conhecemos o Palmeiras.

Nós somos palmeirenses.

Estamos apresentados, representados.

Não precisamos lembrar que somos "campeões do século 20" (pelos rankings da Federação Paulista, jornais "O Estado de S.Paulo" e "Folha de S.Paulo", e pela revista "Placar") - ops, fomos cabotinos, perdão.

Não precisamos cantar vitória e contar canecos.

Precisamos apenas encher o peito e vestir verde.

Não somos mais. Não somos menos.

Somos Palmeiras.

Basta.

Viu?

Falei e escrevi e ainda não disse nada.

Falar de tudo que é o Palmeiras é ainda dizer nada a respeito de tudo.

Poderia escrever Ademir da Guia e bastaria.

Ministrinho, Heitor, Junqueira, Romeu Pellicciari, Waldemar Fiume, Oberdan, Villadoniga, Jair Rosa Pinto, Mazola, Julinho Botelho, Djalma Santos, Valdir de Moraes, Geraldo Scotto, Dudu, César, Leão, Luís Pereira, Leivinha, Jorginho Putinatti, Vagner Bacharel, César Sampaio, Evair, Zinho, Edmundo, Rivaldo, Marcos, Roberto Carlos, Antonio Carlos, Alex, Vagner Love, Valdivia.

Tantos nomes que esqueci, tantos nomes que não citei.

E, mais que todos, mais que tudo, você. Eu. Nós.

Porque o Palmeiras é dos palmeirenses.

Dos torcedores, mais que dos sócios, dos cartolas, dos chefões. Da oposição que não se opõe à situação, mas ao Palmeiras.

Também por se opor à nova Arena em questões que o mesmo grupo havia apoiado quando (des)mandava no clube.

Mas não é tempo para esse tópico fundamental para o futuro do tamanho do presente que é o Palmeiras para os palestrinos.

Vou parar por aqui, sem dizer coisa com coisa.

Mas não fico triste, não.

Nem um Ademir da Guia das palavras conseguiria dizer ao Palmeiras o que o Palmeiras nos diz.

Parabéns pelos 94 anos de vida, Palestra.

Obrigado pelos meus 41 anos de Palmeiras.

Cada um tem seu conceito de jornalismo. Cada um tem o seu conceito de melhor. Cada um tem o seu conceito de palmeirense. E, para mim, não existe palmeirense frio com o Palmeiras.

Por isso, disparadamente entre o poeta e o robô, eu fico com o poeta.

26 de ago. de 2008

94 anos

Às 10h30 de hoje, fiz uma rápida visita aos maiores sites de esportes do país, buscando matérias e textos para inspiração e informação sobre os 94 anos de vida da Sociedade Esportiva Palmeiras. Tolinho... Qual não foi minha surpresa ao descobrir que nenhum dos ditos portais fazia menção à data comemorativa, nem em sua homepage (página inicial), nem na seção dedicada ao clube.

Surpresa nenhuma, na verdade, pois há 94 anos quem engrandece o Palmeiras são os palmeirenses.

Não sou da turma que nos considera perseguidos por tudo e por todos, mas sei que certamente o Palmeiras nunca foi o queridinho da imprensa nem da opinião pública. Graças a Deus.

E mesmo assim, o que era uma paixão à italiana pelo time da colônia, ao longo dos anos espalhou-se país afora. O palmeirense do Nordeste, ou do Paraná, ou do Mato Grosso, ou do Amazonas, todos parecem ter herdado o fanatismo e a forma sempre apaixonada quando falam do próprio time. O Palmeiras sabe ser brasileiro e os palmeirenses brasileiros agregaram como que por osmose o sangue tifosi italiano.

Se nunca fomos os queridinhos da opinião pública, durante a Segunda Guerra Mundial, a partir do momento em que o Brasil declarou guerra à Itália e às outras nações do Eixo, imaginem o que se passou.

Um projeto nacionalista da ditadura de Getúlio Vargas criou uma série de regulamentações desportivas, obrigado os clubes como o Palmeiras a expulsarem dirigentes e sócios extrangeiros, em especial aqueles ligados aos países do Eixo como a Itália. Passaram a ser rotulados pela imprensa como “súditos do Eixo”. Nesta época, o Palestra Itália precisava de permissão oficial para jogar fora de São Paulo capital, especialmente no litoral, área considerada estratégica durante a Segunda Guerra.

O Palestra começou a buscar cada vez mais associados nascidos no Brasil e tinha que provar a todo custo, quase que diariamente, que sabia ser brasileiro. Até que ao final da Guerra e o conseqüente fim da paranóia xenófoba, já como Sociedade Esportiva Palmeiras, os italianos puderam voltar ao clube.

Essa mistura de futebol e paixão, de Brasil e Itália, de ser perseguido e ao mesmo tempo amado, só colocou ainda mais tempero na nossa gloriosa história de 94 anos.

A ponto de em 22 de julho de 1951, diante de mais de cem mil torcedores lotando o Maracanã e torcendo pelo time que sabia ser brasileiro, o Palmeiras se sagrou Campeão do Mundo com o empate no segundo jogo das finais contra a Juventus de Turim, por 2 a 2.

O Palmeiras ensinou os times rivais a jogar bola, com suas Academias. Teve craques calados, que balançaram a apaixonada nação alviverde, como Ademir da Guia, Alex, Rivaldo. Teve craques barulhentos, que incorporaram a raça e a paixão sem nunca se afastar do refinamento e da técnica, como Julinho Botelho, César Maluco, Edmundo, Djalminha. Teve maestros como Djalma Santos, Dudu, César Sampaio, Zinho. Ícones? Ídolos? Todos estes foram. Alguns se juntando à galeria de mitos também, como o matador Evair, São Marcos do Palestra Itália, e tantos outros.

Com 60 anos de vida, o Palmeiras já se sagrava o maior e mais vencedor time no país do futebol. Com 80 anos, fechamos o século XX simplesmente como os campeões dele.

Hoje, completando 94 anos, às vésperas de um episódio histórico no clube, que será a construção da nossa nova casa, e a caminho do centenário, o Palmeiras segue crescendo, e o palmeirense segue fanático e passional. Segue dando bicos da quina da mesa quando seu Palmeiras perde um gol feito, segue declarando amor pelo mesmo jogador que perdeu o gol quando ele o converte. E assim será para sempre.

O Palmeiras, crescendo exclusivamente pelos próprios méritos, escreve a cada dia a mais bela e gloriosa história do futebol brasileiro. Parabéns a você, Palmeiras, a todos nós, e a nossos pais, avós, bisavós, todos que nos fizeram chegar aos 94 anos com a pujança de um jovem gigante.

Agradecimento: à sãopaulina Renata (uma das poucas bambis sãs que conheço) por ceder esta foto histórica.