10 de nov. de 2008

Falar e agir

Nada pior do que uma segunda-feira pós-chacoalhada. Certo?

Errado.

Pior do que a chacoalhada, a derrota, o impacto sofrido no domingo, foi a seqüência de fatos bizarros durante a última semana. Fatos para deixarem qualquer palmeirense, até os mais equilibrados (se é que existem!), fora do eixo. No mínimo, com uma pulga atrás da orelha. Uma pulga do tamanho de um elefante.

Tentei esperar baixar a poeira, acalmar os ânimos, para ver se entendia esta última semana negra, iniciada apropriadamente no dia de finados. Com a consternação ainda presente mesmo depois de 30 horas após o final do jogo de ontem, vi que nada fará passar em branco algumas coisas que assistimos nos últimos 7 dias.

Vou inverter a ordem das coisas e começar pelo final. Falando do Marcos.

Marcos

Falhou no gol do Grêmio. Trata-se de opinião. E nem vale a pena divagar sobre porque considerar falha ou não. A constatação é que dentro do mesmo jogo, o próprio Marcos nos salvou, agarrando bolas impegáveis (como de costume), mas não defendeu esta bola específica e "pegável" (ao contrário do que estamos acostumados).

Isso o torna menos goleiro? Não. Isso o torna menos profissional? Não. Isso o torna menos admirável? Não.

Falhou ao abandonar o gol insandecidamente a partir dos 30 e poucos minutos do segundo tempo. Trata-se de opinião. Falhou, se analisarmos isso como uma atitude profissionalmente destemperada, já que ainda restavam 15 minutos de jogo.

Formei essa opinião enquanto assistia ao jogo e sofria. Achei um risco desnecessário e que não traria bem algum ao Palmeiras. Ao contrário, poderia encerrar o resultado de um jogo (caso tomássemos 2 a 0) que, teoricamente, poderia ainda ser empatado.

Mas algumas horas depois, enxergo este ato do Marcos com outros olhos.

Ele não falhou. Ele falou. Falou com a bola, falou com atitudes, falou com sua postura.

Marcos disse com a bola que queria compensar a falha, tivesse sido ela da zaga ou do próprio.

Marcos disse com atitudes que não estava nem aí para as ordens do senhor Luxemburgo, seu chefe, e gritou para todo o estádio que não estava mais sob comando do "professor".

Marcos disse com sua postura que é palmeirese, meus amigos. Ele fez o que todos os milhões de torcedores fariam se estivessem em campo naquele exato momento.

A razão me diz que ele não deveria tomar esta atitude extrema. E creio que não tomaria, num time comandado por Felipão. Porque ele acreditaria, como fez tantas vezes, num grupo que o Felipão é capaz de formar.

Ontem, o Marcos falou em alto e bom tom, com a bola nos pés: "Não acredito mais no trabalho do Luxemburgo".

Se acreditasse, ele confiaria que o time formado pelo "professor" teria força para reagir e não teria chutado o balde tão cedo. As atitudes de Marcos refletem claramente o descrédito no técnico. Aliás, mais do que descrédito. Seu descomprometimento com Luxemburgo.

Vanderlei Luxemburgo

Milhões de vezes, já vimos e ouvimos saindo da boca de jogadores elogios ao Felipão pelo espírito de unidade que confere a um grupo de profissionais. Também, já vimos e ouvimos o contrário a respeito do Luxemburgo.

Felipão convence os jogadores a comerem grama por ele. Convence-os com seu trabalho, sem ter que pedir a ninguém que faça isso. Já Luxemburgo...

Bem, Vanderlei Luxemburgo continua escrevendo sua história com novos fatos, em sua maioria desabonadores.

Acompanhando a carreira do "professor" desde seu 1º grande sucesso no Bragantino, jamais tive razões ou argumentos suficientes para contestar sua capacidade profissional. Até a semana que passou.

O tempo passa, o mundo gira, e ele é dinâmico. As coisas mudam, as pessoas evoluem (ou involuem), outras pessoas crescem, a realidade se transforma.

Sempre contestei quem criticava ou perseguia o senhor Luxemburgo pelas suas peripécias fora de campo, pelo seu caráter, ou coisas do tipo. Acreditava que sua capacidade como técnico superava seus defeitos como profissional e como pessoa também. Acreditava que o saldo desta conta era positivo.

Mas os últimos 7 dias, deixaram algumas verdades expostas, e que me fazem rever meus conceitos. Principalmente porque entendi, pela primeira vez, que o extra-campo faz parte do trabalho do "professor", especialmente o jogo de cena e o discurso.

Ele próprio sabe e admite isso. Acontece que suas pisadas foram fora e também dentro de campo.

"A meta agora é a Libertadores"

Se havia um aspecto positivo na arrogância do Luxemburgo é que sempre vi em suas posturas ao longo dos anos e em seu discurso uma sede incansável de vitórias, sucesso e conquistas.

No momento em que ele entrega os pontos, declarando que agora vai brigar por uma vaga na Libertadores, ainda tendo chances matemáticas de título, ele se coloca nesse aspecto lado a lado a todos os técnicos medianos que pecam e já pecaram tanto no Palmeiras. Por uma visão medíocre, de objetivos pequenos, embutindo um certo conformismo na sua mentalidade, e indiretamente na mentalidade dos jogadores.

O resultado de uma semana de treinamentos

Aliás... uma semana ou um ano?

Achei certíssima a decisão do "professor" de permanecer aqui no Brasil, treinando o time titular, enquanto os reservas foram jogar na Argentina pela Sulamericana.

Só faltou uma coisa, nessa história toda. A parte do "treinando".

É difícil se conformar com um time profissional que não tem batedores de falta e escanteio definidos, mesmo estando no 11º mês. Como é que se pode treinar um grupo ao longo de um ano, sem definir este ou aquele jogadores como batedores oficiais?

Ok, nossos "batedores" estão longe de serem grande coisa. E este seria exatamente o motivo para que o brilhante "professor" elegesse um ou dois, entre os menos piores, e os fizesse treinar à exaustão, com treinamentos técnicos, para aperfeiçoar a batida na bola.

Quantas jogadas ensaiadas o Palmeiras colocou em prática em 2008 com sucesso? Aliás, nossa "grande" jogada ensaiada é aquela cobrança curta de escanteio, que tira nosso melhor cabeceador da área para devolver a bola ao cobrador, que cruza a bola para ninguém. E que, por obra do acaso (será?), nunca dá em nada.

Quantas vezes, em 2008, vimos nossa defesa sair organizadamente em bloco para deixar o time adversário em impedimento? Nenhuma me vem à cabeça, sinceramente.

Em contrapartida, quantas vezes vimos a defesa do Palmeiras praticamente entrar em seu próprio gol, em situações de cruzamentos e lançamentos para a área, anulando qualquer possibilidade de impedimento do time adversário? Os bizarros e parecidos gols de Grêmio e Fluminense me lembram que não foram poucas vezes.

Para quem sempre defendeu o Luxemburgo por seu trabalho como técnico dentro das 4 linhas, estas constatações são decepcionantes.

Um time em que cobra falta ou escanteio o jogador que se apresentar na hora; cuja defesa deixa o time adversário sempre em condições de fazer o gol, por não fazer uma simples linha de impedimento; que não tem sequer uma jogada ensaiada funcional; assim sendo, não dá para se considerar como um time bem treinado.

Freakshow no plim-plim

Continuando o rewind da semana tenebrosa, chegamos à cereja do bolo. Luxemburgo comentando o jogo do próprio time na Globo, na última quarta-feira.

Ao longo de 15 anos, após as nossas glórias de 1993, 94 e 96 com o "professor", aprendi a fazer um exercício como torcedor de um time dirigido por ele: tapar os ouvidos para suas entrevistas.

O número de asneiras proferidas a cada uma de suas entrevistas é astronômico. Sempre achei que fosse por uma certa deficiência de intelecto. Mas pior do que isso, é uma pessoa assim querer passar sermão nos outros.

A mim, custou anos para perceber que Vanderlei Luxemburgo faz de suas aparições e declarações componentes de seu trabalho. Já vimos diversas vezes ele jogar ao vento declarações dizendo "A" para atingir um determinado objetivo "B". Ou fazer o inverso: pinçar declarações de alguém de fora para provocar uma determinada reação em seus jogadores.

Honestamente, via isso como uma mínima parte de seu trabalho. Um complemento, talvez. Mas hoje me questiono se ele não congelou no tempo e ficou apenas nisso...

No trabalho técnico, dentro de campo, ele está devendo.

E na parte do seu showzinho particular, pisou na bola. Na verdade, pisou na bosta, escorregou, se espatifou no chão e ainda saiu sujo.

Admito que, quando o Palmeiras entrou em campo na Sulamericana, já não esperava nada por diversos motivos. (O time reserva já é fraco tecnicamente. Desmotivado, então, minhas perspectivas de vitória eram nulas.) Assim, nem mesmo os dois gols do adversário me causaram irritação.

Mas ver o técnico de seu time rindo, falando calmamente, inabalável, enquanto seus jogadores estavam fazendo uma apresentação medíocre e parte de seu trabalho estava sendo comprometido (afinal, o time estava sendo eliminado da competição), isso sim me deixou irritado.

Essa aparição non-sense na Globo, o contrasenso de condenar publicamento Marcos (justamente por lavar de roupa suja em público), a perda do controle da situação e o desconforto evidente com o comportamento do goleiro ontem (ironizando o termo "São Marcos") me fazem questionar seu trabalho.

Acho que Luxemburgo perdeu a mão. Perdeu o controle da situação. E, o mais preocupante ainda, perdeu a noção do quanto é importante simplesmente TREINAR um time.

O velho Vanderlei Luxemburgo estaria hoje com sangue nos olhos, com toda esta situação. Estaria louco para calar a todos, esfregando em suas caras um título inesperado e que seria histórico.

O pior de tudo é acreditar que com 4 vitória podemos ser campeões. Pior porque, mesmo ainda sendo possível, o "professor" já não mostra mais a mesma gana de provar seu valor. E assim, o possível se torna praticamente impossível.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com 99% que disse. Não acho que foi uma falha do Marcos, pois se a zaga não tivesse deixado o Tcheco caminhar com a bola e cruzar tão fácil, não teria ido daquela maneira pro gol. Se a zaga fosse treinada, os atacantes estariam impedidos e não tomaríamos o gol. Porém da maneira que estávamos jogando era claro que iríamos tomar o gol a qualquer momento. Não que o grêmio estivesse melhor, mas eles tinham um padrão de jogo, um esquema definido, jogadas prontas e vontade, algo que só Marcos e Pierre tinham na nosso time.

Sobre o "professor", desde que ele chegou eu fui contra, preferia Dorival Jr. ou Adílson Baptista, são novos e ainda precisam mostrar trabalho, iriam fazer de tudo para conquistar algo e mostrar que tem potencial, e seria um custo bem mais barato. Isso de jogadas que citou converso com amigos a tempo. O Palmeiras parece um time de varzea, só q na varzea o pessoa apenas se encontram uma vez por semana para jogar e trabalham a semana toda... não tem como elaborar jogadas e o pessoal tenta. É definido quem bate falta, onde deve ser cruzada a bola e tudo mais, no Palmeiras não sabemos de nada a não ser que o Kleber tem q ganhar as bolas no ataque, o pierre roubar as bolas no meio e o Marcos fechar o gol. Se um deles não estiver em campo ou num dia ruim, sabemos que não iremos ganhar.

É triste perder um título como esse, e o mais triste é ver que o futebol é totalmente manipulado por quem paga mais... o goiás ser punido e não jogar contra a bixarada em casa, é o cumulo.. e aposto que se a bixarada for campeã antes da ultima rodada, esse jogo volto para o serra dourado.

Abraço e parabéns pelo texto

Hiran Eduardo Murbach disse...

assino embaixo a parte sobre a atitude do Marcos, uma forma de mostrar que NÂO CONFIAVA naquele time em campo e no comando... muito bom!!!