6 de mar. de 2008

Pinçados da imprensinha

É pública e notória a insatisfação dos palmeirenses com o comportamento e com o desempenho da mídia, da chamada imprensa esportiva.

Por que será?

Estes mesmos jornalistas que formam a mídia diriam que "todo torcedor acha que seu time é perseguido", o que não deixa de ser um pouco uma realidade.

Mas o que faz um cidadão que acorda cedo, faz as atividades cotidianas em sua casa, sai para trabalhar em busca do leitinho das crianças, rala, sua, ouve abobrinha de patrão ou cliente, enfrenta o trânsito caótico, enfim, que faz tudo isso e ainda se dá ao trabalho de criar um blog, ou site, ou fanzine, para falar sobre o seu time do coração?

Se é difícil responder essa, multiplique esse UM cidadão por DEZ. Ou por CEM. E o que veremos é o nascimento e a solidificação de uma mídia palmeirense independente.

Por que essa urgência em manifestar a nossa opinião sobre o que conhecemos melhor e mais profundamente?

Acompanhamos o noticiário do Palmeiras, o dia-a-dia do time que amamos, em todos em meios e formas. Lemos, ouvimos e vemos de tudo. Desde informações importantes até factóides risíveis e lamentáveis.

Peço ao amigo que leia isto que reproduzirei abaixo e tente identificar as reações que brotam em você, como leitor e como palmeirense.

"Valdivia no São Paulo

O meia chileno Valdivia tem praticamente tudo certo com o São Paulo.

Seu empresário, Juan Figer, de ótimas relações com Juvenal Juvêncio, está com a papelada toda quase pronta.

Será o presente de Natal para os tricolores e o de grego para os alviverdes."

Escrito por Juca Kfouri às 23h41. Dia 12 de dezembro de 2007.

E aí, amigo? Conseguiu passar impassível por estas linhas tão tortas?

Brotam sentimentos ruins, como o de revolta, por tamanha irresponsabilidade. E tantos outros que levam muita gente a deixar comentários no Blog do Juca ou mandar e-mails para o próprio xingando, indignados, sem saber expressar direito o sentimento de incredulidade, desprezo, nojo, raiva, ou outros, sejam lá quais forem.

E isso acontece porque muitos destes inconformados nem sequer sabem porque algo tão "inofensivo" como uma pseudo-notícia num blog causa tantas reações ruins.

Vira e mexe, o próprio jornalista manifesta em suas tribunas, especialmente na ESPN, sua indiferença e não-aceitação (com certa razão) àqueles que o ofendem pela internet, acusando estes de covardes pois se "escondem no anonimato internético".

Ofensas ofendem. Mas idéias não. Por isso mesmo, vamos lá...

É incrível como em tão poucas linhas é possível extrair tantos fatos, que passam desapercebidos por muitos leitores. Não precisa ser jornalista, ou PhD em Comunicação. Basta ser um leitor com alguma proficiência.

Nesta lamentável nota, do fim do ano passado, o jornalista Juca usou o covarde artifício jornalístico de "dizer sem afirmar", afinal, quando se afirma há de se responder pela afirmação feita. Palavras como praticamente ("praticamente tudo certo") e quase ("papelada quase toda pronta") são recursos batidos e manjados quando não se quer comprometer com o que se tem a dizer.

Mas na última frase, "Será o presente de Natal para os tricolores e o de grego para os alviverdes", a afirmação é clara, não há como o jornalista querer fugir da responsabilidade do que ele próprio disse aos seus leitores e assinou com seu nome.

Agora, abaixo, vejam o texto em que ele tenta se esquivar da responsabilidade de ter dado uma notícia falsa (ou seria um factóide pra arrebatar atenção?).

"(...)

A direção do Palmeiras, por sinal, não dá crédito à possibilidade de Valdivia ir para o São Paulo, embora até considere que ficaria feliz com o pagamento da multa rescisória (algo em torno de 14 milhões de euros).

E a direção do São Paulo garante que não pensa em Valdivia.

Alguém, como sempre, está mentindo.

Só espero que não seja a minha desinteressada fonte."

Seria mais honesto com o leitor se o jornalista Juca escrevesse o que ele quis dizer claramente, e não fosse tão orgulhoso. Que mal há em reconhecer um erro? Ele escreveu isso acima, mas o que está escrito nas entrelinhas é:

Alguém, como sempre, está mentindo. Mas não sou eu, tá?

Não me interessa, como leitor, saber se a fonte do jornalista que estou lendo mentiu ou deixou de mentir. O que me interessa é que o jornalista cumpra essas liçõezinhas básicas, que ensinam até mesmo nas faculdades de Jornalismo de R$ 1,99.

Coisas simples como apurar a notícia, checar a procedência e a veracidade da informação, antes de sair vomitando publicamente a primeira coisa que te contam. Especialmente quando o jornalista já tem um certo nome a zelar, leitores a serem respeitados, e milhares de pessoas acompanhando quase que em tempo real o que o profissional escreve.

Tendo colocado isso, que estava entalado na minha garganta desde o momento que aconteceu, quero dar umas pinceladas sobre alguns cronistas, jornalistas e colunistas esportivos que, na minha modesta opinião, atendem aos requisitos que o exigente torcedor palmeirense demanda: seriedade, profissionalismo, independência e desprendimento.

Alberto Helena Jr. Para não dizerem que eu só elegi palestrinos, começo com o bambi, porém correto, Alberto Helena Jr. Um dos jornalistas e colunistas que mais conhece e valoriza a história do futebol, especialmente o Paulista, e nunca se priva de colocar os pingos nos "is" quando o assunto é essa mesma história.

Mauro Beting Palestrino declarado, mas nem por isso deixa de buscar a imparcialidade. Critica o Palmeiras tem que criticar, como fazemos nós mesmos torcedores apaixonados, mas também não se deixa contaminar por falácias abstratas do tipo "mística corinthiana".

Paulo Calçade Um cara atualizado, estudioso das regras e do meio do futebol, que procura nos fatos basear suas análises e comentários. Também não se deixa levar por "ondinhas" da mídia contaminada.

Antero Greco Confesso que não gosto quando o jornalista esportivo perde o foco, e passa a misturar o que acontece fora das quatro linhas com o jogo em si. E apesar de ele fazer isso muitas vezes, quando se atém ao futebol simplesmente, faz comentários pertinentes. Se é incisivo nas suas opinião, o faz para o bem ou para o mal, independente das cores da camisa do alvo de seu discurso.

Marco Antônio (Sportv) Taí um jornalista sereno, ligado no que acontece, imparcial e que parece não carregar grandes cargas de rancores, como boa parte da mídia faz com seus desafetos pessoais.

Claudio Carsughi O Carsughi é, para mim, um professor de jornalismo esportivo. Um mestre que deveria ser seguido e imitado por aqueles que almejam ser alguém nessa área. Ele é frio, prático e objetivo. Trata com frieza e exigência o futebol. Trata igual a sua amada Itália, na final da Copa do Mundo de 2006, e um time qualquer sem expressão, num jogo chato pelo Paulista. Mantém um discurso coerente. Pode ser um crítico ácido. Mas coloca todas as vírgulas, e pontos, e parágrafos, e explicações em seu discurso para deixá-lo claro como água, para que qualquer mal entendedor possa compreender o porquê de cada opinião.

PVC O cara é um estudioso? Fato. Mas acho que vem pecando pelo excesso de preocupação em se manter imparcial. De tanto que ele nega pra si mesmo que não pode beneficiar o Palmeiras em suas análises, ele vem cometendo injustiças com o Verdão. Inclusive a inconveniente prática do "dois pesos, duas medidas". Mas vou ter a benevolência de supor que isso se dá por ser um apaixonado pelo Palmeiras. Acho que não é o caso, pois ele faz toda questão de esconder qualquer emoção quando o assunto é o Palestra.

Mauricio Noriega Como comentarista de jogo, acho que está entre os 3 melhores. Não inventa, não tenta enxergar segredos e táticas mirabolantes que ninguém viu: se atém à seqüência de acontecimentos de uma partida e as comenta, de maneira simples e precisa. É quase impossível ouvi-lo proferir um absurdo, desses que se ouve corriqueiramente nos canais da TV aberta.

Arena Sportv Talvez o programa que mais se aproxime da essência do futebol. Não se discute apenas o "foi ou não foi", eles vão a fundo, entram nas minúcias e no detalhe do jogo, graças a condução de Cléber Machado.

Linha de Passe (ESPN Brasil) Embora muitas vezes se torne irritante, especialmente quando Trajano, Calazans e afins estão de mal-humor com o futebol ou com a vida, deste programa pode-se extrair as mais ácidas críticas a todos os clubes (incluindo o Palmeiras, quando merece). E apesar da presença gambazística do jornalista Juca, nem mesmo o Corinthians é poupado. Nem mesmo o queridinho da mídia, o time do Jardim Leonor, recebe a massagem no ego como ocorre no restante da mídia.

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