15 de fev. de 2008

A família é o berço de tudo

O que a rádio Jovem Pan AM aprontou nesta última semana já ficou para a história do jornalismo. Ela era minha favorita dos tempos de moleque para acompanhar o Palmeiras, quando quem narrava era o incomparável José Silvério, quando Milton Neves ainda tinha tempo pra falar de futebol descontraída e despretensiosamente. Hoje, como ex-ouvinte de uma rádio que sempre teve opinião e valores que em sua maioria batiam com os meus, me sinto envergonhado por ela.

Para quem está por fora do que aconteceu, segue abaixo um brevíssimo resumo.

Na última partida do Palmeiras, em que vencemos o Guarani por 3 x 1, o sr. narrador reserva desta rádio deu lamentáveis declarações a respeito do Valdivia. Não vou colocar entre aspas, pois não as tenho gravadas para reproduzi-las na íntegra com precisão. Mas a essência das baboseiras era a seguinte:

  • Se eu fosse jogador do Guarani, descia o sarrafo no Valdivia
  • Estou de olho no Valdivia desde quando ele chegou no Palmeiras
  • Joga esse seu futebolzinho aí

Essas foram as idéias proferidas pelo narradorzinho reserva da Jovem Pan, no último sábado. A primeira declaração já é lamentável por si só, mas as outras demonstram a perseguição específica.

Pois bem, esta demonstração de anti-profissionalismo e de jornalismo amador causou a ira de muitos torcedores alviverdes, que muito rapidamente manifestaram seu repúdio através de blogs, fórums e e-mails à rádio.

Arrogantemente, a rádio Jovem Pan duvidou da inteligência do torcedor do Palmeiras. Mandou ao ar uma mensagem com conteúdo editorial rechaçando o boicote palmeirense a ela, que na cabeça dos gênios que redigiram o conteúdo era tudo manipulação de Luiz Gonzaga Belluzzo.

"De onde a JP tirou isso?", vocês podem perguntar.

Hoje, a Sociedade Esportiva Palmeiras publicou uma nota explicando isso. Um palmeirense indignado (como ficaram todos que ouviram), chamado Luiz Gonzaga, mas que não é o Belluzzo, manifestou sua indignação com a postura da rádio a respeito do Valdivia e do Palmeiras.

Postura da rádio SIM -- afinal, trata-se de uma rádio jornalística e opinativa, que se gaba por "prestar serviços" à comunidade, e a emissora deve assumir o ônus do conteúdo das opiniões ali emitidas pelos "profissionais" contratados por ela. Se o narrador suplente falou aquelas asneiras, estas chegaram aos ouvidos de milhares de palmeirenses através das ondas da JP.

Outra parte lamentável desta história, e que fica um pouco oculta nas entrelinhas de tudo que ocorreu, foi a arrogância jornalística (praga da mídia, especialmente a esportiva), que julga nós, espectadores, leitores e ouvintes, incapazes de termos opiniões complexas e completas a respeito de um assunto pelo "crime" de amarmos nosso time do coração.

A "defesa" que a rádio logo armou foi acusar que a indignação dissipada entre os palmeirenses pelas palavras de Rogério Assis teria sido uma manipulação do Belluzzo. Além de infundada e caluniosa, como ficou provado a partir das últimas entrevistas dadas pelo Diretor e grande economista palmeirense, essa posição da emissora mostra o quanto ela subestima a nossa inteligência.

Sim, a mesma rádio que proclama ter "os ouvintes mais inteligentes do Brasil" não nos considera capazes de emitirmos opiniões próprias, de nos indignarmos, taxa de "ditadura" um boicote proposto por muitas vozes de palmeirenses que pensam e se expressam através dessa rede de "terminais" que é a internet. Se fazer um boicote legítimo é um ato de ditadura, o que seria democrático? Ter que ouvir as baboseiras de Rogério Assis e companhia na Jovem Pan?

Fiquei indignado com a mensagem editorial da rádio. Primeiro, por esse desprezo à inteligência do ouvinte. Por ME considerar incapaz de ter uma opinião crítica e ME rotular como um cordeirinho cego seguidor de alguém, que teria ME manipulado a pensar assim ou assado. Segundo, por acusar uma pessoa pública, cuja lisura é tão pública quanto ele, de articular ações não democráticas. Isso é a prova do despreparo de tal equipe jornalística para receber críticas dos seus "clientes".

Só para finalizar, quem tem vergonha na cara e trabalha na Jovem Pan deve estar rubro com estes acontecimentos. Eu estou! Estou com vergonha alheia pela JP.

Que mico histórico dar-se ao trabalho de redigir todo um texto repudiando isso e aquilo, gravar uma mensagem editorial com efeitos sonos da torcida palmeirense (para tentar agradar nosso bico como se fôssemos miquinhos amestrados), com o hino do Palmeiras ao fundo, o pobre do locutor despendeu de seu tempo quando poderia estar fazendo algo útil e não tão embaraçoso. E além de tudo isso, acusar alguém erradamente por confundi-lo com um homônimo.

Me senti insultado quando a rádio disse que o boicote era manipulado por Luis Gonzaga Belluzo. Eu havia assistido o jogo pelo pay-per-view no sábado e tomei o primeiro conhecimento sobre a pisada da Jovem Pan pela comunidade do Palmeiras no Orkut. Qual não foi minha surpresa ao chegar na casa de minha família no domingo e ouvir a mesmíssima história da boca do meu pai, e sentir nas palavras dele a mesma indignação palmeirense que eu havia lido no dia anterior.

Jovem Pan, aprenda uma coisa: "A família é o berço de tudo".

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